Recém-formado em medicina veterinária, com especialização em resgate em situação de desastres, o capixaba Geovani Tonolli, então com 25 anos, se ofereceu como voluntário para ajudar no salvamento de animais em meio ao maior incêndio da história do Pantanal, ocorrido em 2020. Na primeira missão, ele participou do resgate de duas onças-pintadas em meio ao fogaréu na região da Serra do Amolar (MS).
Ambas foram levadas de helicóptero para o Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (Cras), na capital Campo Grande, a mais de 400 km de distância, onde havia infraestrutura para serem atendidas. Uma delas, batizada de Joujou, teve as quatro patas queimadas, passou por tratamento e dois meses depois retornou ao seu habitat. Recebeu um colar de rastreamento, foi acompanhada por dois anos e hoje segue a vida normalmente.
A outra, chamada de Tiago, não teve a mesma sorte. Seu estado era mais crítico porque tinha inalado mais fumaça e morreu 2 horas após chegar ao centro veterinário. Tonolli conta que, para chegar até o helicóptero foi preciso transportá-la em um estrado de cama encontrado na casa abandonada onde havia se refugiado. Os socorristas tinham apenas uma gaiola adequada para a operação, que foi usada por Joujou.
Após a experiência de sete dias, feita com o Grupo de Resgate Técnico Animal do Pantanal (Gretap), Tonolli teve certeza de que “aquilo tinha muito a ver comigo, acho que tenho vocação e é o quero fazer”.
Na Serra do Amolar, ele conheceu o Instituto Homem Pantaneiro (IHP) – ONG que mantém vários projetos – como o de preservação de onças-pintadas e de nascentes –, que o convidou inicialmente para um trabalho de dois meses e, depois, o contratou como veterinário. Logo mudou de posto e foi ser gestor de áreas na base do IHP, na Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Acurizal, no coração do Pantanal sul mato-grossense.
Nessa função, Tonolli foi um dos idealizadores da instalação, no Acurizal, de uma base de atendimento para resgate técnico animal, que será inaugurado até fevereiro. “Ter uma base (nessa região) é algo pioneiro”, afirma.
Equipamentos, como colares com GPS e câmeras de alta definição são algumas das ferramentas introduzidas em iniciativas na região, coordenadas pelo IHP
Vários equipamentos estão sendo adquiridos como macas, cintas para estabilizar animais com cores de acordo com o grau de gravidade, gaiolas para transporte, suporte de oxigênio, anestésico, zarabatana e rifles para sedação. No local poderão ser feitos procedimentos como intubação e cirurgias simples.
“Esperamos que não ocorra novamente (incêndios de grande proporção), mas, se ocorrer, teremos condições de fazer a remoção do animal com mais agilidade e profissionalismo e, consequentemente, vamos dar mais condições de vida a ele”, afirma.
Segundo ele, não será possível fazer todo o atendimento na base, dependendo da gravidade, “porém vamos conseguir estabilizar o animal e ganhar tempo pois, numa situação de desastre, é difícil conseguir embarcação ou aeronave para transporte imediato”.
Ciclos de atendimento
O objetivo é que, num futuro próximo, o centro tenha capacidade de realizar todos os ciclos de atendimento, desde resgate, tratamento e a soltura do animal.
No fim de novembro, Tonolli, recebeu nova responsabilidade no IHP. Vai fazer parte da equipe do programa Felinos Pantaneiros, de preservação de felinos, especialmente a onça-pintada, que está na lista de risco de extinção.
Uma das empresas patrocinadoras do projeto, a General Motors do Brasil, ampliou aportes, que vão custear atividades científicas e de educação ambiental, além de permitir a contratação de três novos profissionais – dois veterinários (incluindo Tonolli) e uma bióloga.
Também cedeu a segunda picape S10 Z71, que permite ao grupo chegar a locais de difícil acesso. Ao todo, a GM vai investir R$ 1 milhão em dois anos na parceria iniciada em março.
Nascido no Espírito Santo, Tonolli decidiu ser veterinário aos 14 anos, após trabalhar em uma loja de ração e pegar gosto pela lida com animais. “Eu sonhava em trabalhar com leões na África”, conta ele. “Não fui para lá ainda, mas estou no Pantanal trabalhando com onças-pintadas”.
Fonte: Estadão